quarta-feira, dezembro 23

surpreendida por um momento de alegria, me desconheci. me vi saindo de meu corpo, me transformando em quem eu não queria. repetidas vezes, me sonhei nesse corpo. me sonhei nessa ilusão de que tudo, um dia, vai ficar bem. mas não vai. esses momentos alegres chegam e do mesmo jeito que chegam, vão embora. estou surpresa que a alegria ainda não foi embora. estou surpresa que estou aguentando minuto por minuto esse estado lastimável de ficar sorrindo pras paredes. não pode ser eu. não pode. e tudo por que eu vi uma joaninha pousar em minha mão. não sou eu de jeito nenhum.

eu sou o silêncio que me escuta
a lua que minguou

eu sou o pó levado pelo vento
as cinzas que já passou

eu sou a tarde que morre
o juízo que sumiu

eu sou o espaço vazio do mundo
a palavra que calou

eu não sou eu
eu sou o vazio
eu sou o desamor
eu sou a rouquidão

eu sou tudo
e sou o nada
estou aqui
e em lugar algum.

acabou-se a poesia
acabou-se o aborrecimento
acabou-se o amor
acabou-se o sexo

tiranos trancaram-me
dentro de meu coração
arrancaram-no de mim
e depois jogaram fora.